Audax Floripa 400 – Agosto/2014
Continuando a série Audax 2014 chegou a vez do Audax Floripa 400km, a penúltima etapa do desafio Super Randonneur. No sábado cedo partimos eu, Gilberto e Limas sentido Florianópolis para retirar nossos kits. A chuva veio acompanhando todo o trajeto já anunciando que teríamos tempo molhado mais tarde.
Retiramos nossos kits e partimos eu e o Limas para almoçar ali perto pois a largada seria as 14hs de sábado, com limite de chegada até as 17hs de domingo, fechando em 27hs o tempo máximo de prova. No retorno do almoço começou o eventual preparativo com todos os detalhes e itens exigidos pela organização: manta térmica, colete, dois faróis (acima do 400 são dois mesmo), pilhas extras e uma luz traseira.
No horário marcado, a largada ocorreu sob chuva e todos estavam preparados para girar os 400km sob uma chuva chata. Desta vez consegui encontrar o Eleonésio que foi meu parceiro neste desafio e seguimos alternando alguns grupos até a BR 101 em São José. Na BR 101 o pedal começou a fluir melhor, mas era impossível trabalhar o vácuo ou andar próximo a qualquer outro biker devido a chuva, era muita água e areia respingando.
Chegamos em Itajaí no tempo programado – 18:30h – onde comemos o tradicional risoto, abastecemos água e algumas frutas e seguimos viagem até o Posto Sinuelo em Araquari. Ali já havia combinado encontrar com a minha família pois era um posto de controle, então poderia receber o melhor apoio do mundo: roupa limpa, macarrão quentinho, café, abraços e muitas palavras de incentivo. Já era programado parar por uns 45 minutos neste PC, mas a parada se alongou e ficamos pouco mais de 1h ali curtindo a presença e apoio dos familiares.
Já eram 22:30h quando seguimos com 165km rodados novamente em direção a Florianópolis. Saindo de Barra Velha furou meu pneu traseiro, que já sentia parcialmente vazio por algumas centenas de metros. Não foi uma troca rápida, não sei dizer o motivo, mas com chuva e tanta areia dentro do pneu foi bem chato e complicado fazer aquela troca, meu medo era ficar areia dentro do pneu e isso ir furando a câmara depois durante o trajeto.
Esta parada iniciou um desanimo entre eu e o Eleonésio que quebrou bastante nosso ritmo, vínhamos seguindo bem, mas já não era a mesma coisa. Um pouco antes de chegar em Itajaí – lá pela meia noite – fizemos uma parada num posto para repor um pouco as energias pois o sono começou a bater, ele tomou uma coca enquanto eu sentei numa cadeira de plástico e fechei o olho por uns breves minutos.
Seguimos até Itajaí e logo depois por Balneário Camboriú onde subimos o Morro do Boi. Como na subida você tem de se esforçar um pouco mais, o sono acabou dando lugar a concentração e seguimos por Itapema até o pedágio de Porto Belo. Ali já era nossa parada programada – o único porém é que todos os outros ciclistas resolveram parar ali também – chegamos lá e já haviam outros ciclistas dormindo no lugar. Assim que vi uma cadeira fiz o mesmo, cedi ao sono que me perseguia e deixei meu corpo descansar sentado. Foi uma parada longa, ficamos mais de 2h ali parados entre dormir, jogar uma água na cara até enfrentar o resto da madrugada até Florianópolis novamente.
O trajeto entre Porto Belo e São José tem pouca paisagem urbana, passando por pequenos morrinhos e um mar de solidão só. O sono resolveu dar as caras novamente naquela monotonia e escuridão da noite, não víamos a hora de chegar de uma vez no PC3 lá em São José. Quando chegamos lá o dia clareou e os problemas de sono ficaram no escuro da noite, agora era só pedalar os 100km faltantes, ficou tudo mais fácil.
Ao entrar na ilha, pudemos acompanhar muitas pessoas fazendo a Maratona Caixa de Santa Catarina na Via Expressa Sul, e assim seguimos até o PC4 depois do Morro das Pedras. Fizemos alguns amigos neste caminho e tudo seguia bem. Na saída do PC4 comecei a sentir meu pneu traseiro sempre murchando, mas não estava novamente a fim de fazer a troca deste pneu. O domingo amanheceu ensolarado e quente, bem diferente do sábado onde pegamos chuva e muita areia na BR 101 até metade da madrugada.
Depois da reta do Rio Vermelho o cansaço e as respostas do corpo começaram a aparecer depois de aproximadamente 18hs pedalando. Este cansaço aumentava ainda mais minha preguiça de trocar a camara que vinha esvaziando nos últimos 40km, quando parei para verificar notei que meus dois pneus já estavam desintegrando a banda de rolagem, trocar a camara poderia ser pior pois poderia mexer no pneu e mais furos poderiam aparecer pelos rasgos que estavam bem visíveis no pneu.
As paradas para colocar toda vez 80 ou 100 libras na mão foram desgastando e consumindo tempo que tínhamos para a prova, porém ainda tínhamos aproximadamente 3h de folga, então fomos administrando o ritmo até o PC5 nos Ingleses. Saímos de lá com perspectiva de pedalar tranquilamente e completar a prova com pouco menos de 2h de folga, ainda brinquei “com este tempo dá até pra chegar se for empurrando a bike”.
Passando o bairro João Paulo eu já havia perdido a conta de quantas vezes havia parado para encher meu pneu traseiro, eu enchia o mais rápido que podia e seguia em frente tentando desviar de qualquer sujeira no chão, porém isso não durava mais que 2 ou 3km e tudo se repetia. Na saída do bairro João Paulo – já nos quilômetros finais – o pneu não aguentou e sucumbiu, onde não havia mais o que fazer. Ou era trocar tudo ou seguir em frente, e foi nesta hora que eu resolvi ir empurrando até a chegada, onde consegui terminar este Audax com aproximadamente 38 minutos ainda de folga.
Foi uma experiência diferente poder lidar com tantos problemas e ainda assim completar este desafio. Meu agradecimento fica a todos os amigos que encontrei nos PC’s, a todo o apoio que minha família ofereceu antes, durante e depois e ao Eleonésio que foi um super parceiro neste Audax. Na chegada em Joinville a família do Gilberto e vários amigos nos receberam com muita festa, foi um momento de muita alegria e felicidade ter tanta gente torcendo pelos nossos resultados.
Cada Audax é único e este deixou muita coisa positiva para se lembrar e aprender. Na segunda após o Audax eu não sentia os dedos anelar e mindinho da mão direita, tinha uma sensação de formigamento, falta de força, dificuldades em fechar a mão e segurar objetos como uma caneta. Procurei um ortopedista e veio a constatação que tive a compressão excessiva do nervo mediano do tunel cárpico. Com este diagnóstico precisarei ficar longe da utilização da bicicleta por pelo menos 45 dias, quando inicio minha readaptação novamente.
Não é uma notícia que eu recebi da melhor forma, pois não poderei participar do Audax 600 no próximo mês. Mas saúde está sempre em primeiro lugar e ano que vem estarei lá para fazer tudo novamente.