Continuando a série Audax 2014 chegou a vez do Audax Floripa 400km, a penúltima etapa do desafio Super Randonneur. No sábado cedo partimos eu, Gilberto e Limas sentido Florianópolis para retirar nossos kits. A chuva veio acompanhando todo o trajeto já anunciando que teríamos tempo molhado mais tarde.
Retiramos nossos kits e partimos eu e o Limas para almoçar ali perto pois a largada seria as 14hs de sábado, com limite de chegada até as 17hs de domingo, fechando em 27hs o tempo máximo de prova. No retorno do almoço começou o eventual preparativo com todos os detalhes e itens exigidos pela organização: manta térmica, colete, dois faróis (acima do 400 são dois mesmo), pilhas extras e uma luz traseira.
No horário marcado, a largada ocorreu sob chuva e todos estavam preparados para girar os 400km sob uma chuva chata. Desta vez consegui encontrar o Eleonésio que foi meu parceiro neste desafio e seguimos alternando alguns grupos até a BR 101 em São José. Na BR 101 o pedal começou a fluir melhor, mas era impossível trabalhar o vácuo ou andar próximo a qualquer outro biker devido a chuva, era muita água e areia respingando.
Eleonesio, eu e o Jeferson Bruning na largada, sob chuva. Foto: Manoel Behnke
Chegamos em Itajaí no tempo programado – 18:30h – onde comemos o tradicional risoto, abastecemos água e algumas frutas e seguimos viagem até o Posto Sinuelo em Araquari. Ali já havia combinado encontrar com a minha família pois era um posto de controle, então poderia receber o melhor apoio do mundo: roupa limpa, macarrão quentinho, café, abraços e muitas palavras de incentivo. Já era programado parar por uns 45 minutos neste PC, mas a parada se alongou e ficamos pouco mais de 1h ali curtindo a presença e apoio dos familiares.
Já eram 22:30h quando seguimos com 165km rodados novamente em direção a Florianópolis. Saindo de Barra Velha furou meu pneu traseiro, que já sentia parcialmente vazio por algumas centenas de metros. Não foi uma troca rápida, não sei dizer o motivo, mas com chuva e tanta areia dentro do pneu foi bem chato e complicado fazer aquela troca, meu medo era ficar areia dentro do pneu e isso ir furando a câmara depois durante o trajeto.
Esta parada iniciou um desanimo entre eu e o Eleonésio que quebrou bastante nosso ritmo, vínhamos seguindo bem, mas já não era a mesma coisa. Um pouco antes de chegar em Itajaí – lá pela meia noite – fizemos uma parada num posto para repor um pouco as energias pois o sono começou a bater, ele tomou uma coca enquanto eu sentei numa cadeira de plástico e fechei o olho por uns breves minutos.
Seguimos até Itajaí e logo depois por Balneário Camboriú onde subimos o Morro do Boi. Como na subida você tem de se esforçar um pouco mais, o sono acabou dando lugar a concentração e seguimos por Itapema até o pedágio de Porto Belo. Ali já era nossa parada programada – o único porém é que todos os outros ciclistas resolveram parar ali também – chegamos lá e já haviam outros ciclistas dormindo no lugar. Assim que vi uma cadeira fiz o mesmo, cedi ao sono que me perseguia e deixei meu corpo descansar sentado. Foi uma parada longa, ficamos mais de 2h ali parados entre dormir, jogar uma água na cara até enfrentar o resto da madrugada até Florianópolis novamente.
O trajeto entre Porto Belo e São José tem pouca paisagem urbana, passando por pequenos morrinhos e um mar de solidão só. O sono resolveu dar as caras novamente naquela monotonia e escuridão da noite, não víamos a hora de chegar de uma vez no PC3 lá em São José. Quando chegamos lá o dia clareou e os problemas de sono ficaram no escuro da noite, agora era só pedalar os 100km faltantes, ficou tudo mais fácil.
Audax 400 Floripa. Beira Mar Sul. Foto: Patrícia Philipps
Ao entrar na ilha, pudemos acompanhar muitas pessoas fazendo a Maratona Caixa de Santa Catarina na Via Expressa Sul, e assim seguimos até o PC4 depois do Morro das Pedras. Fizemos alguns amigos neste caminho e tudo seguia bem. Na saída do PC4 comecei a sentir meu pneu traseiro sempre murchando, mas não estava novamente a fim de fazer a troca deste pneu. O domingo amanheceu ensolarado e quente, bem diferente do sábado onde pegamos chuva e muita areia na BR 101 até metade da madrugada.
Depois da reta do Rio Vermelho o cansaço e as respostas do corpo começaram a aparecer depois de aproximadamente 18hs pedalando. Este cansaço aumentava ainda mais minha preguiça de trocar a camara que vinha esvaziando nos últimos 40km, quando parei para verificar notei que meus dois pneus já estavam desintegrando a banda de rolagem, trocar a camara poderia ser pior pois poderia mexer no pneu e mais furos poderiam aparecer pelos rasgos que estavam bem visíveis no pneu.
As paradas para colocar toda vez 80 ou 100 libras na mão foram desgastando e consumindo tempo que tínhamos para a prova, porém ainda tínhamos aproximadamente 3h de folga, então fomos administrando o ritmo até o PC5 nos Ingleses. Saímos de lá com perspectiva de pedalar tranquilamente e completar a prova com pouco menos de 2h de folga, ainda brinquei “com este tempo dá até pra chegar se for empurrando a bike”.
O Audax mais desafiador de todos até agora e o mais especial: 400km de alegria
Passando o bairro João Paulo eu já havia perdido a conta de quantas vezes havia parado para encher meu pneu traseiro, eu enchia o mais rápido que podia e seguia em frente tentando desviar de qualquer sujeira no chão, porém isso não durava mais que 2 ou 3km e tudo se repetia. Na saída do bairro João Paulo – já nos quilômetros finais – o pneu não aguentou e sucumbiu, onde não havia mais o que fazer. Ou era trocar tudo ou seguir em frente, e foi nesta hora que eu resolvi ir empurrando até a chegada, onde consegui terminar este Audax com aproximadamente 38 minutos ainda de folga.
Chegada Audax Floripa 400km – Foto: Gilberto Ciclista
Foi uma experiência diferente poder lidar com tantos problemas e ainda assim completar este desafio. Meu agradecimento fica a todos os amigos que encontrei nos PC’s, a todo o apoio que minha família ofereceu antes, durante e depois e ao Eleonésio que foi um super parceiro neste Audax. Na chegada em Joinville a família do Gilberto e vários amigos nos receberam com muita festa, foi um momento de muita alegria e felicidade ter tanta gente torcendo pelos nossos resultados.
Recepção na casa do Gilberto na chegada.
Limas, eu e Gilberto comemorando o desafio.
Cada Audax é único e este deixou muita coisa positiva para se lembrar e aprender. Na segunda após o Audax eu não sentia os dedos anelar e mindinho da mão direita, tinha uma sensação de formigamento, falta de força, dificuldades em fechar a mão e segurar objetos como uma caneta. Procurei um ortopedista e veio a constatação que tive a compressão excessiva do nervo mediano do tunel cárpico. Com este diagnóstico precisarei ficar longe da utilização da bicicleta por pelo menos 45 dias, quando inicio minha readaptação novamente.
Nervo mediano
Não é uma notícia que eu recebi da melhor forma, pois não poderei participar do Audax 600 no próximo mês. Mas saúde está sempre em primeiro lugar e ano que vem estarei lá para fazer tudo novamente.